segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cruzada pela verdade

ORLANDO SILVA: CARTA DE AGRADECIMENTO AOS AMIGOS E FAMILIARES

Ao divulgar esta carta do Orlando Silva, contando sobre o verdadeiro martírio que viveu nas ultimas semanas,estamos participando da "cruzada pela verdade" que a Presidenta anunciou.

Caros amigos e familiares,

Perdoem a demora em escrever para vocês. Nos últimos dias, meu desejo era falar com cada um, mas não conseguiria, por isso preferi o caminho dessa carta.



Nas últimas semanas, vivi um pesadelo. Tudo começou com a reportagem numa revista semanal que eu imaginava ser apenas mais um ataque político, o que, infelizmente, é rotina em nosso País. Eu estava a caminho de Guadalajara, México, para representar o governo na abertura dos Jogos Panamericanos, onde o Brasil tinha a maior delegação da história numa competição internacional e que contou com grande o apoio do Ministério do Esporte.



Fiquei perplexo com a informação de que a tal revista iria publicar uma acusação de que eu teria recebido dinheiro indevidamente. Era sexta-feira à noite e a publicação sairia no sábado.



Estou acostumado com luta política, com crítica, divergência ideológica, ataques à gestão, antipatia pessoal, insatisfação com estilo...tudo isso eu sempre compreendi. Mas, mentir!? Inventar uma história para atacar a honra de uma pessoa e de um Partido!? Imaginava que luta política tivesse limites, afinal, até na guerra há limites. Estava enganado. A partir de uma farsa, foi organizada uma verdadeira campanha para me derrubar.



Observem: uma revista fez uma reportagem, com direito a chamada na capa, com base em fatos que simplesmente não existiram. Ultrapassamos o limite do absurdo!



E quem eram os porta-vozes das mentiras? Dois personagens da crônica policial de Brasília. Gente que está sendo processada por iniciativa do Ministério que eu dirigia, e de quem exigimos a devolução de dinheiro publico desviado.



Insisto, vejam o absurdo: um sujeito foi flagrado desviando dinheiro público...eu determino que seja feita uma investigação...ao final determino que o dinheiro público seja devolvido...o ladrão inventa uma história...uma revista publica a farsa, sem existir nenhuma prova... os meios de comunicação reproduzem a história sem provas e pronto! A mentira ganha ares de "verdade". E começa a campanha "tira-ministro".



Neguei a acusação, com veemência. Desde o primeiro momento, afirmei não haver provas, porque simplesmente se tratava de uma mentira. Nunca ocorreu o fato relatado pelos bandidos. Os dias passavam, eu reafirmava que se tratava de uma farsa, e, pasmo, acompanhava a maioria dos meios de comunicação endossando a versão dos bandidos, como se fosse dispensável provar o absurdo que diziam. Bastava acusar.



A trama montada serviu para atrair o interesse da população, que olha a política com desconfiança. Mas seria necessário um outro passo. Seria necessária "uma prova" para desestabilizar minha liderança no Ministério do Esporte. Uma cruzada foi estabelecida por jornalistas que estavam em busca da tal "prova", ou como alguns gostam de dizer, da "bala de prata" que mataria o Ministro.



Eu poderia comentar cada uma das centenas de matérias publicadas nas ultimas semanas. Todos os contratos e convênios do Ministério foram revirados. Tudo foi investigado. Diariamente, dezenas de perguntas chegavam das redações da imprensa e nossa assessoria tinha prazos mínimos para responder. E o que é pior, pouco interessavam as nossas respostas, elas eram ignoradas. As matérias já estavam prontas.



Na gestão pública, assim como na gestão de qualquer instituição ou mesmo na vida privada, erros podem ser cometidos. Ninguém está imune a eles. O desafio é identificá-los e corrigi-los. Se observarmos minha trajetória e a de minha equipe à frente do Ministério do Esporte, por cinco anos, veremos muitas conquistas. Mas houve erros e atuamos para saná-los. Cumprimos sempre nossa obrigação.



O foco da trama se voltou para convênios com Organizações Não-Governamentais, as chamadas ONG's. Vale dizer que existem ONG's e ONG's, assim como existem governos e governos. Alguns são mais competentes, outros trabalham de forma mais correta. Quem tem má intenção, nunca chega anunciando: "olha...estou mal intencionado...meus objetivos são sórdidos...!" Daí a necessidade de acompanhar, fiscalizar o cumprimento do que foi estabelecido. É o que fazíamos.



Quem se baseou apenas no noticiário, deve imaginar, por exemplo, que o programa Segundo Tempo ocorre apenas em parceria com ONG's. Mas, pasmem, no dia que sai do governo, mais de 90% do Segundo Tempo era fruto de parceria com entes públicos. E quem puder ler os relatórios das auditorias feitas, constatará a evolução ano a ano deste Programa.



Outra coisa inacreditável. As reportagens omitiam algo fundamental: o Ministério do Esporte aumentou a fiscalização, o que permitiu identificar erros e tomar as devidas providências administrativas. Deram ares de escândalo ao trabalho de acompanhamento e fiscalização que realizávamos. Isso serviu para criar instabilidade política e atacar meu trabalho na Pasta.



Nenhuma prova demonstra benefício ao PCdoB por meio dessas entidades. Mas a acusação tem objetivo político, atacar um Partido que tem 90 anos de história e é limpo. Insisto: divergências políticas e ideológicas fazem parte do jogo, mas acusações falsas...ameaçam a democracia.



Na ausência de provas, o que fazer? A saída foi inventar algo que parecesse razoável: a filiação partidária de alguns gestores públicos. De repente, ser filiado a um partido, no caso ao PCdoB, virou "prova de crime". Se o Ministro é do PCdoB, não se pode admitir que um secretário da área seja também. O mesmo vale para entidades. Não se admite que qualquer filiado ao Partido participe de entidade. O que vi foi uma perseguição aos comunistas, do mesmo modo que acontecia nas ditaduras.



Os principais meios de comunicação e muitos jornalistas se comportaram como uma manada. É como ataque especulativo na bolsa de valores. O objetivo: desestabilizar e derrubar o Ministro. E isso foi conseguido. A receita é assim. Primeiro, cria-se um ambiente de escândalo, para comover a opinião pública. Segundo, ataca-se a gestão – de que forma? Ignorando tudo de positivo feito, apontando qualquer erro e superdimensionando-o para desmoralizar o trabalho realizado. Terceiro, pressiona-se o governo, utilizando todas as ferramentas da política, inclusive contradições internas, para alcançar o objetivo.



E se ainda não for o bastante para atingir o que se pretende, lança-se mão de uma reserva no arsenal de guerra contra a honra alheia: ataques à família.



Aqui tivemos um capítulo à parte. Comprar um terreno de R$370 mil, único bem que possuo, com cheque registrado em escritura e construir uma casa de 110 metros quadrados, virou escândalo. Quer mais? O patrocínio de uma empresa estatal para uma das maiores companhias de teatro do Brasil, e que minha companheira fez parte. Detalhe, o patrocínio vem de anos e o trabalho da companhia é reconhecidamente extraordinário. Poderia dar outros exemplos, mas fico por aqui. O que eles queriam era me desestabilizar emocionalmente e me fazer jogar a toalha.



Durante todo o processo procurei manter a serenidade, não perder a razão, apesar de ataques tão baixos.



Ofereci a abertura de minha vida - sigilos fiscal, bancário, telefônico e de correspondência. Desmontei a farsa contra mim na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Propus a apuração dos fatos publicados pela Comissão de Ética Publica, pelo Ministério Publico e pela Polícia Federal. Foi minha a iniciativa e tentaram inverter a ordem, como se eu tentasse encobrir algo.



Hoje, inauguramos no Brasil uma Inquisição moderna, não interessa análise racional de processos. O editorial de um jornalão paulista foi no âmago da questão: "não importam as provas, não importa o processo, a acusação basta". É' uma versão atual da famosa frase "às favas com os escrúpulos". O mau jornalismo institui verdadeiros tribunais de exceção, que realizam julgamentos sumários.



Houve tempo em que nossos companheiros eram perseguidos, presos, torturados e até assassinados. Hoje, o método utilizado é a execração pública, o linchamento político, sem que se dê direito de defesa. E depois, a mídia age como se nada tivesse acontecido, e passa a buscar uma nova presa.



Ao fim do processo, depois de uma conversa com a Presidenta da Republica, saí do governo.



O que percebi é que interesses contrariados operam nas sombras. A maior parte dos meios de comunicação não está preocupada com fatos ou informações. Não pretende esclarecer nada. Publica apenas o que lhe apetece, o que serve a objetivos próprios, independente de ser verdade.



Talvez eu tenha incomodado interesses políticos e econômicos. Fui pedra no sapato de alguns.



A realidade, amigos, é que saí do governo de cabeça erguida. Pela porta da frente, apesar do massacre vivido. Em minha ultima manifestação, no Palácio do Planalto, disse, olhando nos olhos da Presidenta da República: sou inocente!



Num tempo de inversão de valores, tenho eu que provar minha inocência. E assim farei.



Agradeço o carinho e a confiança que recebi de milhares de pessoas, algumas bem próximas, outras que sequer conhecia. Atletas, parlamentares, intelectuais, artistas, autoridades e gente do povo. Do Brasil e de fora. É incrível a quantidade de pessoas que se aproxima de mim e diz: acredito em você! A todos, reafirmo: não traí e nunca trairei a confiança de cada um de vocês.



Agradeço o carinho de minha equipe no Ministério do Esporte e de meus companheiros de governo.



Sigo lutando pelos meus ideais. Acredito no Brasil. Volto para São Paulo, para a mesma casa que muitos de vocês conhecem. Volto para a militância política por um Brasil cada dia mais justo e democrático. Isso é o que me dá felicidade. E é muito bom estar mais perto dos amigos e dos companheiros. E de lá retomo minha trajetória política. A verdade vencerá!



Orlando Silva

Brasília, Novembro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Tempo.

O tempo parou aqui nesse espaço. Muito tempo sem escrever. Claro que com muita coisa a dizer mas muita a não fazer também. Sei que esse é um espaço para mim mesma e preciso então voltar. Têm ficado tudo na minha "analista de sistemas" que é quem anda cuidando do meu "sistema" ultimamente. Nada de promessas nem obrigação. Isso já tenho demais. Obrigação principalmente. Vamos ver no que dá.

terça-feira, 27 de julho de 2010

"A vida é uma questão de risco ou de abstinência"

Dias atrás publiquei aqui "Aquela criança de sempre". Texto forte, sem dúvida. Forte também é a história do poeta e escritor cubano Reinaldo Arenas, autor do poema.
Reinaldo era pobre, cubano e homossexual num período que ainda havia muito preconceito.A "confissão" da homossexualidade de Reinaldo foi interpretada como um rompimento com o regime de Fidel e provocou tamanha irritação entre as autoridades revolucionárias que logo o enviaram para um campo de reeducação com o objetivo de readaptar sexual e socialmente os cidadãos considerados de "conduta imprópria". Ou seja, um absurdo. No entanto, sua relação com a revolução cubana nem sempre foi conflituosa. Quando tinha 15 anos Arenas era guerrilheiro nas tropas de Castro que combatiam o ditador Fulgêncio Batista.
Infelizmente por um erro do regime da época Reinaldo foi censurado em seu próprio país. O regime exigia uma literatura mais engajada que contribuísse para a conscientização revolucionária mas Reinaldo era declarado "transgressor, anticonvencional, favorável ao direito da livre-expressão e, portanto, antirevolucionário" e como consequência, censurado.
Uma pena, um erro, um exagero.

Acredito que toda história tem tres versões: a de um lado, a de outro e a que realmente aconteceu. O fato é que esse poeta cubano se revoltou contra o regime de Fidel e conta sua versão dos fatos numa autobiografia institulada "Antes que anoiteça". Esse nome foi dado pelo fato de que ele precisava escrever sempre antes do anoitecer, aproveitando a luz do dia.

Reinaldo acabou sendo considerado apátrida e vivendo nos EUA onde terminou sua autobiografia. Mais tarde, muito doente devido à AIDS suicida-se.


A autobiografia "Antes que anoiteça" virou um filme, alguns anos depois do suicídio de Reinaldo. O filme é lindo, triste como sua história e tem como protagonista no papel de Arenas o interessante e lindo tambem Javier Bardem, além de Johnny Depp e Sean Penn.

"A vida é uma questão de risco ou de abstinência" dizia Reinaldo Arenas.
Ele escolheu o risco.

Chiclete

Dias atrás ouvi uma conversa entre minha mãe e minha filha Nina de 3 anos. Mina mãe perguntava bastante filosófica:
- Nina, o que voce vai querer ser quando crescer? Será que voce gostaria construir casas, prédios ou quem sabe ser uma médica que cuida da saúde das pessoas... E aí o que voce vai querer fazer quando crescer?
Depois de pensar um pouco respondeu:
- Vovó eu vou querer comprar chiclete!

sábado, 26 de junho de 2010

Aquela criança de sempre

"Sou esse menino desagradável,
sem dúvida inoportuno,
de cara redonda e suja,
que fica nos faróis,
onde as grandes damas tão bem iluminadas,
ou onde as meninas que parecem levitar,
projetam o insulto de suas caras redondas e sujas.

Sou uma criança solitária,
que o insulta como uma criança solitária,
e o avisa:
se por hipocrisia você tocar na minha cabeça,
aproveitarei a chance para roubar-lhe a carteira.

Sou aquela criança de sempre,
que provoca terror,
por iminente lepra,
iminentes pulgas, ofensas,
demônios e crime iminente.

Sou aquela criança repugnante,
que improvisa uma cama de papelão
E espera, na certeza,
que você me acompanhará."

Reinaldo Arenas

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Devaneios

"Há meros devaneios tolos a me torturar..."


Zé Ramalho

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Risadinhas"

É incrível o que pode provocar uma simples risadinha. Tenho recebido várias "risadinhas" ultimamente quando ao ser questionada se concorrerei às eleições desse ano digo que sim, que sou pré-candidata à Deputada Federal. Basta falar e a "risadinha" aparece assim, automaticamente. Claro que é bastante desitimulador. Era também quando lançamos minha canditatura à vereadora por Goiânia. A "risadinha" era ainda mais alegre porque para alguns significava que haveria mais uma cadeira vagando na Câmara Municipal de Goiânia. Claro, Euler Ivo era vereador desde 1982, sem perder nenhuma eleição e agora ele não seria mais candidato e lançaria uma filha em seu lugar. Uma ilustre desconhecida. Foram muitas risadinhas por muitos meses até a eleição.

Confesso que às vezes sinto muita dificuldade em continuar esse projeto político de candidatura à Federal. Não que achasse que seria fácil, mas o dia-a-dia é mesmo desestimulante.

Dias atrás fizemos algumas contas sobre o que seria necessário em termos financeiros para uma eleição de Deputada Federal. A cifra que chegamos com uma campanha modesta, sem compra de votos,ou seja, sem quantidade grande de contratações, foi de R$ 3,5 milhões de reais. Isso mesmo! R$ 3,5 milhões de reais jogando por baixo. É realmente um absurdo e impossível para uma candidata como eu.

Não sei se todos sabem mas a compra de votos hoje no Brasil é legalizada. Vou dar um exemplo. Funciona assim: o candidato tem direito de contratar inúmeras pessoas para trabalharem para ele na época de eleições. Na verdade esses contratados não precisam fazer quase nada. Basta votar e pedir uns votinhos na família. Daí o candidato calcula que se ele precisa de por exemplo 5 mil votos pra ser eleito ele contratra umas 8 mil pessoas esperando que pelo menos 5 mil pessoas das 8 mil contratadas votem nele. Ele contrata através de lideranças comunitárias, assessores etc. E daí, assim garante a eleição e mais: não deve nada a ninguém! Não deve mesmo! Ele comprou e pagou pelo seu voto! Voce recebeu e votou nele. Ele tem compromisso somente para com os grandes grupos econômicos que "investiram" o dinheiro para a "campanha" dele. Claro, ou voce acha que o dinheiro que ele conseguiu para contratar 8 mil pessoas foram de graça, próprios ou de um trabalho ou salário suado? Ele se torna representante de um grupo e precisa defender os interesses desse grupo depois ao fazer as leis no nosso país.

Bom, mas vamos lá. Com os R$ 3,5 milhões de reais eu ainda não estaria contratando muita gente não. Estaria mais dando estrutura pros que querem me apoiar no interior. Imagina que voce mora no interior e acredita e quer trabalhar para minha eleição. A campanha dura alguns meses e voce tem família e casa pra sustentar. Voce então pode até trabalhar pra mim mas, precisa de salário, de uma equipe para ir às ruas, de um carro de som para anunciar as reuniões, etc. Para garantir essa estrutura de trabalho precisa então de dinheiro, muito dinheiro já que são vários municípios.
Daí surgem as "risadinhas". Os que conhecem o mundo político sabe de que é preciso para uma eleição de federal. Não é fácil conseguir de 50 a 120 mil votos sem "estrutura". Na verdade é praticamaente impossível, né?

Bom, pode até ser. Mas diz um ditado que "Não sabendo que era impossível ele foi lá e fez!"

Continua...