terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pipoca x Piruás

Para os cristãos religiosos, são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria. Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem exisir juntas.
Já a comida sagrada do Candomblé é a pipoca. É que a transformação do milho duro em pipoca macia é simbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua ser milho de pipoca para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes trasnformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando de repente a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. E com isso a possibilidade de grande transformação.
A pipoca não imagina aquilo do que ela é capaz. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Mas existe o piruá que é o milho de pipoca que recusa-se a estourar. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa que o jeito delas serem. A sua presunção e o seu medo são a casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar. Não vão dar alegria a ninguém. Os piruás não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Esse pensamento é de Rubem Alves que eu adoro ler. Conhece?

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